Política, Jornalismo ou Exclusão:
reflexão sobre a pré-campanha
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Todos os dias leio jornais. Todos os dias, invisto algumas horas a ler e a rever perto de uma dezena de títulos de imprensa. Entre os quais se contam órgãos nacionais, internacionais, regionais e locais.
Além disso, informo-me amiúde com a rádio e também faço os meus serões em frente à TV. Logo, gostaria de pensar em mim como alguém minimamente bem informado.
No entanto, não pude evitar o pasmo a propósito do número de pré-candidatos a sucessor de Jorge Sampaio na Presidência da República. Afinal, são 13 os pré-candidatos ao cargo, e não apenas os cinco que participaram na ronda de debates emitidos nos canais televisivos portugueses que emitem em sinal aberto (e que juntos "detêm" a fatia de leão das audiências televisivas).
Pasmei. Desculpem, importam-se de repetir? Há mais 8-candidatos-8 e eu não sabia? Mas quem são eles? O que querem? O que promete essa imensa maioria que vive na penumbra mediática criada pela "função editorial-comunicativa"? Não me disseram? Porquê?
Comportamentos
Sabe-se agora que alguns destes pré-candidatos não se levaram muito a sério e que na hora de formalizarem a sua candidatura junto do órgão respectivo - o Tribunal Constitucional - acabaram por desistir. Desde logo aqueles que, segundo conta hoje o jornal Público, pouco mais fizeram do que entregar a identificação. Com estes pré-candidatos, nem eles próprios, nem os media se interessaram. E, pelos vistos, ajuizadamente.
Outros, no entanto, empenharam-se minimamente em reunir as 7500 assinaturas necessárias. Mas nem isso evita que tenham igual destino aos pré-candidatos 'da tanga'. No momento em que escrevo, ainda não é conhecido o número final de candidatos admitidos, mas sabe-se que sete deles haviam sido notificados para corrigir anomalias, correndo risco de acabarem excluídos por incumprimento das normas formais, burocráticas, que uma candidatura presidencial implica.
Ora, ao contrário das primeiras, estas desistências de segunda ordem, a verificar-se, servirão para uma crítica dos media que, em geral, ignoraram estes cidadãos. Neste sentido, os media "construíram" uma pré-campanha, em torno dos protagonistas que escolheu. Dos quais nenhum teve dificuldade em cumprir os aspectos formais da sua candidatura a Presidente da República. E sendo assim, se houver excluídos, por incumprimentos formais, entre aqueles que os media, na generalidade, não nos deram a conhecer previamente, qual é a responsabilidade dos media?
Se, em 1498, Leonardo da Vinci tivesse pintado a sua "A Última Ceia" apenas com cinco, e não com 13 pessoas, à mesa, que figuras deixaria o pintor de fora? Tiraria só aos apóstolos ou Jesus também? Com que critérios escolheria Leonardo? A tal quadro 'amputado', não serviria melhor um título tipo "A Manipulação da Última Ceia" (manipulação no sentido em que foi mexido, alterado, com a mão)?
O quadro que resta parece evidente: um claro exemplo do modo como o jornalismo, pode (também ou sobretudo?) ser um exercício de exclusão. Pelo menos, no campo da política.
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Fontes:
Correio da Manhã;
Portugal Diário; Imagem de "A Última Ceia" (1498), pintada por Leonardo da Vinci, surripiada
daqui (e com a devida vénia ao trabalho excepcional que por lá se faz) e manipulada em Photoshop.
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Para saber mais:
Comissão Nacional de Eleições (CNE) tem em mãos oito processos relativos a queixas por "tratamento jornalístico discriminatório". Todas foram apresentadas pelos candidatos ignorados durante a actual pré-campanha para as eleições presidenciais (ligação aos gráficos da CNE).