30.1.06

Matemática “on tour”


Camião TIR vai levar a ciência a 30 escolas do país
A partir de hoje e durante quatro meses a Matemática vai andar em digressão por Portugal. O road show Caixamat – uma parceria entre a Universidade de Aveiro (UA) e a Caixa Geral de Depósitos – vai passar por 29 escolas nacionais, prevendo-se a visita de cerca de 50 mil pessoas ao camião da Matemática.

O Caixamat é um camião TIR que tem como principal objectivo demonstrar aos jovens que aprender Matemática pode ser divertido, tendo como lema "Os catetos e a hipotenusa não mordem". No interior do camião estarão instalados 10 computadores e outros equipamentos com software produzido pelo Projecto Matemática Ensino (PmatE) da Universidade de Aveiro.

Em declarações ao jornal Público, o coordenador do PmatE, Batel Anjo, afirmou que o programa propõe que os alunos “façam os exercícios de Matemática de uma forma diferente, para que percebam que a Matemática tem que ser pensada e não memorizada"

Os programas pedagógicos que se encontram instalados no camião Caixamat destinam-se a alunos desde o 2.º ciclo ao secundário e, além da Matemática, abrangem ainda sobre a Física, a Biologia e a Robótica.

A UA está desenvolve há cerca de 15 anos projectos destinados a estimular o gosto dos mais jovens pela disciplina de Matemática. "A experiência dos outros projectos que temos vindo a desenvolver indica que já se conseguiram alguns resultados. Há agora uma maior atenção para a Matemática", afirmou Batel Anjo ao jornal Público.

Segundo os autores da indicativa o objectivo do projecto “é estimular a aprendizagem e a criação de gosto pela Matemática, nomeadamente a Matemática Escolar, divulgando, ao mesmo tempo, a ciência e combatendo a info-exclusão”. “Na frase «Matemática é para todos», que serve de lema a este projecto, pretende-se que os alunos não se auto-excluam do processo de aprendizagem desta disciplina”, lê-se no sítio da UA.

O Caixamat teve hoje a sua primeira paragem, em Lisboa, na Escola Secundária D. Filipe Lencastre. Até Maio outras 28 escolas receberão o camião. Paralelamente irão ser realizadas competições do PmatE, destinadas aos 1º 2º e 3º ciclos do ensino básico, bem como ao ensino secundário.
Outras fontes: JN

29.1.06

Leite escolar passa a ser responsabilidade das escolas

A partir do início de Fevereiro, a aquisição e distribuição do leite escolar aos alunos do primeiro ciclo passa a ser da responsabilidade dos agrupamentos de escolas. Um despacho do Ministério da Educação (ME), publicado em Diário da República na passada sexta-feira estabelece esta alteração que visa evitar “disfunções” e “desperdícios”, afirma o ME.

O novo modelo de distribuição de leite nas escolas está previsto no Orçamento de Estado para 2006 e é já aplicado nos outros níveis de ensino. De acordo com uma fonte do Ministério da Educação que prestou declarações à agência Lusa, a nova medida visa evitar as “disfunções” e "desperdícios irrecuperáveis" que a anterior gestão propiciava.
Com esta medida o Ministério pretende também que os responsáveis dos agrupamentos escolares tenham a possibilidade de adequar o tipo de leite às necessidades específicas de cada criança, tendo em conta, por exemplo, casos de alergias ou doenças.
Do mesmo modo, as escolas ficarão, agora, encarregadas de melhorar o suplemento alimentar às crianças mais carenciadas – com a atribuição de um pacote de leite extra ou fornecendo-lhes um alimento sólido juntamente com o leite da manhã.
A gestão do leite escolar era da responsabilidade das Direcções Regionais de Educação, custando anualmente aos cofres do Estado cerca de dez milhões de euros. As direcções regionais abriam, todos os anos, um concurso público internacional para escolher o fornecedor dos pacotes de leite, que eram depois armazenados pelas autarquias e distribuídos às escolas.
Fontes: Lusa; Público

6.1.06

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No Público de hoje (link para subscritores), mais uma reflexão sobre a responsabilidade dos media na cobertura da actual campanha presidencial. No texto que, pelo seu interesse, reproduzimos na íntegra nesta página, a autora, Estrela Serrano, avança uma descrição da forma como geralmente são analisadas as notícias difundidas pelos órgãos de comunicação social sobre cada um dos candidatos, ensaiando no entanto a refutação da ferramenta de análise - o cronómetro - negando o que apelida como a "objectividade" do cronómetro. Pelo contrário, o foco da análise deve dirigir-se ao enquadramento noticioso, o "framing".
"O enquadramento funciona como a primeira dimensão do acto de mostrar e serve de âncora a todas as outras dimensões. Enquadrar é uma maneira de chamar a atenção para certos aspectos de um assunto, enquanto se minimiza a atenção relativamente a outros", explica a autora, analisando em seguida o que pode acontecer quando os media, os jornalistas e repórteres de imagem, destacam (enquadram a apresentação da informação pelo lado das) acusações de um candidato em relação ao outro.
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A campanha presidencial nos media
Por Estrela Serrano*
Os media, especialmente a televisão, tornaram-se o palco por excelência em que decorre a campanha para as eleições presidenciais. A pré-campanha confirmou a crescente mediatização das campanhas eleitorais, visível no papel do marketing e dos conselheiros de comunicação na organização dos programas dos candidatos, nos seus materiais de campanha e nas suas estratégias discursivas.
Por outro lado, o desenvolvimento dos processos de monitorização dos media por parte de empresas especializadas, sobretudo a publicação regular do número e duração das notícias nos canais generalistas de televisão, introduziram no discurso dos candidatos a crítica à cobertura mediática da campanha. A "vigilância" exercida pelos staffs das candidaturas abrange imagens televisivas, textos e fotografias publicadas nos jornais.
A leitura e interpretação dos dados estatísticos disponibilizados por essas empresas é geralmente feita em termos simplistas, isto é, considera-se que quanto mais notícias os media publicarem sobre um candidato e quanto maior for a sua duração, melhor e mais favorável é a cobertura e mais beneficiado é esse candidato. Uma maior visibilidade é, assim, associada a um benefício concedido pelos media.
Ora, os dados em que, aparentemente, se baseiam essas críticas não autorizam essa leitura. De facto, a "objectividade" do cronómetro que mede as aparições de cada candidato tende a esvaziar a dimensão contextual das notícias, elemento essencial na análise das peças jornalísticas. A valorização de um candidato não resulta, apenas, da sua visibilidade, mas sim da confluência de vários indicadores para além da extensão da cobertura, entre os quais o enquadramento e o tom conferidos às peças ou a saliência dada à voz do candidato, por oposição à voz do jornalista.
Aliás, um dos elementos mais subtis na análise da cobertura de uma campanha reside nos enquadramentos conferidos às peças jornalísticas. O enquadramento funciona como a primeira dimensão do acto de mostrar e serve de âncora a todas as outras dimensões. Enquadrar é uma maneira de chamar a atenção para certos aspectos de um assunto, enquanto se minimiza a atenção relativamente a outros. O enquadramento "acusação" e "ataque", conferido a títulos e textos de apresentação de peças relativas a alguns dos candidatos nesta eleição, condiciona a recepção dessas peças e prepara o telespectador e o leitor para encarar a campanha como um palco de ataques e acusações entre candidatos, imprimindo um tom "negativo" às peças relativas aos autores dos "ataques" e das "acusações" (que surgem geralmente nas imagens em poses pouco serenas), ao mesmo tempo que vitimiza os "acusados".
As peças jornalísticas, especialmente as televisivas, apresentadas sob esse enquadramento possuem um efeito boomerang, isto é, a visibilidade conferida aos "acusadores" está longe de os valorizar. Os "beneficiados" são, quase sempre, os "acusados", a quem, neste caso, a "invisibilidade" favorece.
Por seu turno, o tom das peças jornalísticas depende quer do candidato quer do jornalista que faz o relato da campanha e, no caso da televisão, do apresentador que introduz a peça. Uma palavra ou um trejeito são portadores de um significado mais ou menos forte.
Aliás, no que respeita à televisão, acontece que o significado das imagens escapa quer aos candidatos quer aos próprios jornalistas. De facto, o jornal televisivo é um universo onde os discursos se acumulam, se anulam e se apagam. Mostrar não constitui aí um acto informativo, mas um ritual. O que fica é a carga afectiva que uma determinada imagem comporta e transmite, que varia de pessoa para pessoa. O detalhe que alguns não percepcionam torna-se significativo para outros. O espectro da imagem estende-se das sensações visuais elementares às significações intelectuais, percorrendo, simultaneamente, o registo fantasista. As imagens televisivas oferecem-se à pluralidade de interpretações, não sendo o seu efeito determinado pelo cronómetro.
*Assessora de imprensa de Mário Soares entre 1986 e 1996. Defendeu tese de mestrado sobre Comunicação Presidencial e prepara doutoramento sobre o mesmo tema