31.3.06

Processo de Bolonha: 282 cursos
afirmam-se preparados em 2006/2007

A Direcção-Geral de Ensino Superior (DGES) recebeu, até às 14h00 horas de hoje, 282 propostas de reformulação de licenciaturas, no âmbito do Processo de Bolonha, adiantou, hoje aos microfones da TSF, uma fonte oficial do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Aquele número deve, no entanto, subir, tendo em conta que, em declarações à mesma estação de rádio, o presidente da Confederação dos Institutos Superiores Politécnicos, Luciano de Almeida, garantiu que os politécnicos entregariam, até ao final do dia, "300 a 400 propostas de reformulação" dos cursos, adequando-os às novas regras europeias de ensino superior já partir do próximo ano.

O prazo para a entrega das propostas termina hoje, mas apesar do empenho das principais universidades, há atrasos confirmados quer ao nível das instituições universitárias quer ao nível dos politécnicos. Há inclusivamente duas instituições universitárias (da Madeira e Universidade Aberta) que, segundo a mesma fonte, não tinham, até àquela hora, entregue nenhuma informação à DGES.

O chamado Processo de Bolonha é um compromisso assumido há seis anos por 45 países europeus, que visa harmonizar, até 2010, os graus e diplomas atribuídos, para facilitar as equivalências de cursos e aumentar a possibilidade de os jovens conseguirem emprego em todo o espaço europeu. A harmonização dos cursos de graduação, de mestrado e doutoramento obrigou as escolas a reformularem os currículos, mexendo inclusivamente na duração dos cursos.

Lisboa e Minho à frente

Neste processo, as Universidades de Lisboa, Nova, Técnica e do Minho são as que mais contribuem para as 282 propostas de reformulação já recebidas no Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior. Nestas quatro escolas universitárias, a maioria dos cursos já estarão adaptados a esta nova realidade do espaço europeu de ensino superior logo a partir do próximo ano lectivo, 2007/2007.
Números citados pela agência Lusa indicam que, no lote das mais avançadas, a Universidade de Lisboa terá no próximo ano 30 das suas 40 licenciaturas adaptadas a Bolonha. A Universidade Nova de Lisboa, pelo seu lado, tem 37 cursos preparados para as novas regras e, no próximo ano, arranca com mais 16 cursos, já adaptados ao Processo de Bolonha e que provêm da reestruturação de outros cursos existentes até aqui.
Quanto à Universidade Técnica de Lisboa, vai apresentar 31 propostas de adaptação de cursos, o que corresponde a cerca de dois terços do total de licenciaturas disponibilizadas na instituição.
No que respeita à Universidade do Minho, o panorama não diverge muito, com 30 dos 54 cursos aptos a funcionar à luz de Bolonha no próximo ano lectivo.

Porto com 25 por cento, Coimbra atrasa-se

Na Universidade do Porto (UP), o número de propostas de reformulação não é tão elevado, mas ainda assim representa cerca de um quarto do total das suas licenciaturas, refere a agência Lusa.
A mesma fonte acrescenta que entre as principais universidades de Portugal, Coimbra é a que está mais atrasada, devendo apresentar propostas de adaptação para apenas três cursos.
Na Universidade dos Açores, serão dois cursos, Economia e Psicologia, os únicosa funcionar a partir de Setembro de acordo com as novas regras. "Possivelmente, alguns cursos do Departamento de Ciências Agrárias também apresentarão o novo formato de ensino", garante o vice-reitor da academia açoriana, Brandão da Luz, em declarações a um semanário açoriano.
Quanto aos Institutos Superiores Politécnicos, a adaptação está também numa fase avançada, prevendo-se que cerca de 40 por cento da actual oferta esteja remodelada e preparada no próximo ano lectivo.

Professores e alunos criticam remodelação "apressada"

A condução do processo tem no entanto sido alvo de algumas críticas por parte de estruturas sindicais representativas dos professores e de associações de estudantes, que temem uma diminuição da qualidade do ensino superior em Portugal devido à rapidez da aplicação do processo.
Às críticas dos sindicatos de professores universitários, que consideram apressada e sem concretização das medidas necessárias nem verificação das condições físicas das universidades, junta-se a voz dos estudantes de Lisboa, Coimbra e do Porto, que dizem concordar com o princípio de Bolonha, mas consideram que a revisão feita à pressa estão a fazer esquecer questões fundamentais para a qualidade do ensino.

Estudo inglês sugere que trabalhos de grupo melhoram rendimento escolar

Os estudantes concentram-se melhor no seu trabalho, progridem mais e manifestam um comportamento positivo se trabalharem em grupo. Por isso, os professores não devem tentar controlar directamente a sala de aula, mas antes procurar ser um "guia" para o trabalho dos estudantes, mesmo que estes, no início, não observem bem as regras do trabalho em grupo.

Tal recomendação é sustentada nas conclusões de um estudo inglês que acaba de ser divulgado e que envolveu mais de 4.250 jovens dos cinco aos 14 anos de idade. As conclusões, recentemente divulgadas em Londres, indicam que, nos estudantes dos primeiros anos de escolaridade, o estudo em grupo nas aulas de matemática e de leitura produziu resultados benéficos, elevando o desempenho dos jovens em ambas as disciplinas. E nos estudantes do grau secundário, os professores reportaram que o trabalho de grupo impulsinou a capacidade de compreensão dos alunos em relação a questões conceptuais mais complexas.

O estudo insere-se no projecto SPRinG, desenvolvido pelo Instituto de Educação da London University, em conjunto com as Universidades de Cambridge e Brighton. Envolveu, entre 2005 e 2006, 162 turmas do ensino primário ao secundário e os resultados foram obtidos a partir da comparação do desempenho de turmas que adoptaram na sala de aula o trabalho de grupo com o das turmas que trabalharam segundo o método "tradicional", baseado na orientação directa professor-estudantes.

No final, os investigadores concluiram que o trabalho de grupo devia ter um papel preponderante no percurso escolar uma vez que ajuda os alunos "a desenvolver competências, confiança, respeito e sensibilidade". Simultaneamente, recomendam aos professores que não desistam do trabalho de grupo se a organização por grupos resultar em aulas mais barulhentas ou agitadas.

Sindicato de professores contesta conclusões

O maior sindicato inglês de professores foi ácido na reacção às conclusões dos investigadores da London University. Para a secretária-geral do sindicato, Chris Keates, as sugestões do estudo são "irrealistas". "É necessário ter em conta o contexto, as circunstâncias em que os professores trabalham", contrapõe a líder sindcal do NASUWT. "É um erro alguém dizer 'fizemos uma investigação, isto funcionou e vai funcionar em todas as ocasiões'", reforça Keates, na BBC News online.

Ed Baines, coordenador da investigação pela London University, salienta, no entanto, que o trabalho de grupo deve ser usado estrategicamente como um complemento do trabalho escolar a desenvolver com alunos daquela faixa etária. Nas turmas em que este critério foi adoptado, "houve avanços significativos" no rendimento escolar dos estudantes, atesta Ed Baines, com o desenvolvimento das "competências que os jovens vão precisar mais à frente nas suas vidas", acrescentou.

"[O trabalho de grupo] é sobre como tomar decisões em conjunto, chegar a um compromisso, resolver as dificuldades e defender uma posição no grupo", sublinha Barnes. Além disso, os estudantes envolvidos no trabalho de grupo passaram a ser mais activos e capazes de reflectir sobre os argumentos de um tópico, comprometendo-se mais com a sua aprendizagem, do que aqueles das turmas que no âmbito da investigação mantiveram o método tradicional de ensino, classificado pelos responsáveis do estudo como um método "passivo".