Tirar um curso superior em Inglaterra é um projecto cada vez mais caro. Nos últimos sete anos, a despesa de uma família inglesa com a formação superior de um filho subiu 44 por cento. A tendência será para continuar a subir, visto que uma das medidas a pôr em prática este ano é o aumento das propinas. No entanto, o ministro inglês do Ensino Superior garante que o executivo também vai mexer no sistema de acção social escolar, com novas regras de financiamento dos apoios aos alunos economicamente mais carenciados.
Actualmente, o orçamento familiar gasta, em média, 10.273 libras, (pouco mais de 14.700 euros) com a universidade. Em 1998-1999, esta despesa era, em média, 6.161 libras, (pouco mais de 8800 euros).
Estes valores incluem as despesas com a habitação, a alimentação, a saúde, com viagens não relacionadas com o curso ou o entretenimento. Na maioria dos casos é, no entanto, o próprio estudante que paga sozinho ou contribui fortemente com as verbas, tendo em conta que a maioria dos universitários (56 por cento) em Inglaterra têm um emprego.
No capítulo das receitas – onde se incluem os empréstimos bancários contraídos pelos estudantes para financiar a sua formação superior – houve também um aumento de 46 por cento, para as 8.333 libras (praticamente 12 mil euros). Os empréstimos da banca aos universitários também estão previstos pela legislação portuguesa.
O endividamento médio do estudante inglês que se tenha licenciado em 2005 e contraiu empréstimo é de 7.918 libras, isto é, deve em média 11.349 euros à banca. A este nível, o relatório destaca, no entanto, a existência de uma situação de forte desigualdade – os estudantes mais endividados são os estudantes mais pobres. Algo que o governo inglês já prometeu tentar resolver.
Mais acção social e mais propinas
A fórmula do governo 'labour' de Tony Blair para corrigir esta situação passa por novas regras no sistema de acção social escolar. O aumento das propinas, previsto para Setembro, é outra das medidas do pacote legislativo para o Ensino Superior.
“O novo sistema de apoio financeiro deve garantir que os estudantes podem concentrar-se na escolha acertada do curso e da instituição sem preocupações desnecessárias com o dinheiro”, afiança o ministro inglês do Ensino Superior, Bill Rammell.
A verdade é que 25 por cento dos estudantes da amostra dizem ter ponderado a hipótese de abandonar a universidade devido ao esforço com o endividamento. Mas o ministro inglês prefere sublinhar que “os licenciados continuam a usufruir de um retorno substancial, quer social quer financeiro, com o diploma”, de resto em sintonia com 80 por cento dos alunos inquiridos, que pensam o mesmo em relação às vantages do ‘‘canudo’’.
Em Inglaterra, o controlo da contabilidade (receitas e despesas) dos universitários é feito regularmente. Os dados são compilados pelo Centro Nacional para a Pesquisa Social e pelo Observatório do Emprego, responsáveis pelo “Student Income and Expenditure Survey”. A amostra deste estudo é composta por mais de 3.700 estudantes, de 88 universidades de Inglaterra e do País de Gales. O último relatório foi divulgado pelo Departamento para a Educação e Qualificação no Outono de 2005.
Especialistas pedem moderação nas propinas
Coincidência ou não, o "Higher Education Policy Institute" lançou esta semana um aviso dirigido às universidades inglesas. Para os responsáveis daquele "think tank", fundado em 2002 e sediado em Londres, as escolas devem moderar o preço das propinas sob pena de afastar o interesse dos estudantes estrangeiros.
“Uma forte mudança no número de estudantes internacionais obrigaria a acções imediatas nas instituições mais expostas para estancar a perda de receitas”, refere o instituto, que se dedica a acompanhar a situação do Ensino Superior e a reflectir sobre as políticas para este sector.
Num relatório apresentado esta semana, o instituto confirma igualmente que as instituições inglesas cobram valores mais elevados aos estudantes estrangeiros, nomeadamente aos extra-comunitários, do que aos estudantes nacionais ou da União Europeia.
As universidades inglesas é que não parecem preocupadas com este cenário, tendo em conta as declarações de uma fonte próxima da direcção da entidade que é interlocutor e representante das universidades inglesas, a Universities UK. A referida fonte, citada na BBC News, frisa que as direcções escolares "estão cientes de que o recrutamento de estudantes estrangeiros é uma área complicada e volátil".